para a Ana Cristina César, poeta brasileira
Não te mates nesse dia
não morras Ana.
Os segredos são violentos quando são sãos
as marés azuis quando se enchem
e a visão da terra é redonda como a linha do horizonte.
Não te mates nesse dia
não morras Ana.
Cada palavra tua é lágrima acesa no coração dos homens
deserto aberto no nascimento das flores
risco tracejado no voo circular das aves em pleno céu.
"Todos achamos que somos
Fernando Pessoa"
- dirias tu.
Todos os que o somos
o somos
sem sê-lo
nesta eterna razão que ele nos ensinou
deixando-nos como visão individual.
Cada um nasce com o que tem
e morre com o que deixa.
Porém, vive com o que imagina
o envolve, o angustia
o fere.
Não te mates hoje Ana
já que amanhã não morres.
A linha da terra é o que nos separa
do resto do mundo.
Ontem foi o nosso risco.
O hoje é a nossa certeza
de todo o amanhã.
José Manuel Capêlo, Palavras, Átrio, 1988.
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