terça-feira, 29 de julho de 2008

O grito e o silêncio

pintura de Sir Edward Burne-Jones
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Tudo parece um sonho...
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E o que é um sonho
senão a função da primavera ante um grito na montenha?...
Senão o fragor duma cascata ante o silêncio da selva
ou o passar duma nuvem ante o céu que nos anima?
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Com ele, construímos miríades acima de nós-mesmos
fugimos ante o temor que nos produz
lembramos imagens que julgávamos impossíveis
arrepiávamos caminhos que pensávamos disponíveis.
Com ele, quantas vezes fugimos de nós
e dos outros, sem remédio
sem olharmos para trás uma única vez que seja?
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Todos o temos. Todos o tivemos
e ai daquele que não nasça com sonhos,
pois (esse) ficará com o espectro
do que caminha sem sentido.
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Mas hoje, sonho o sonhar-me!
O sonhar-te através do teu corpo
da tua presença, da tua ausência
e do que és, sem o seres.
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Hoje, sonho-me sem me sonhar
eternamente ... sonhando-te.
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José Manuel Capêlo, A Noite das Lendas, Aríon, 2000

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