sexta-feira, 17 de abril de 2009

Primavera


Vénus Verticordia, de Dante Gabriel Rossetti

A laranjeira que me ofereceste
é a mais bela árvore do meu jardim.
Enquanto que as outras desaparecem ou vão secando
a tua cresce e expande-se com os seus frutos
a sua seiva nova, a majestade intacta.
Poder dizer-te que começou a Primavera!...
Mas que sentido tem isso tudo
quando a lembrança do tempo é lembrança anterior
a tudo o que se vem afirmando...naturalmente
como naturais são os nossos olhos ou as nossas palavras
o rigor que com que dizemos: amanhã é um dia eterno
e não estou cá para o ver. Disse-o em Paris
quando Paris era a capital cultural do Mundo.
Repeti-o em Londres quando Londres se começava a libertar
da oligarquia da igreja católica e se tornava a Meca dos protestos
dos novos ensinamentos, das novas descobertas marítimas.
Mas para que te digo eu isto tudo
quando sei que a laranjeira que me deste
é a mais bela árvore do meu jardim.

José Manuel Capêlo, publicado no romance de Sabina Ricagni, Heróico Fogo da Primavera, Zéfiro, 2008

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