Chuva, de Gustave Caillebotte
De ti sempre esperei a serena chuva
aquela frágil gota de água
que me tocava a ponta do nariz.
Talvez que viesse com a luz
ou com a ponta do cigarro
ou com a tua agonia aparente.
Mas de ti sempre esperei
essa pequena gota de água.
Normalmente pensava
que ao meu redor existiam as tuas fantasias
ou pelo menos
entregavas nas minhas mãos
as tuas intenções.
A gota de água era um símbolo
um movimento novo
que juntavas ao teu sorriso
e que fazias acompanhar
do mais belo gesto.
Normalmente era verdade.
Só que no meio do entusiasmo
me vieste com loucas manhãs
com gritos de menina mimada
com falas de falsa donzela
com arrepios próprios do Inverno.
Aí, pedi que me desses de novo
a chuva serena
a frágil gota de água
para que me pudesse saciar.
Então, estendeste as mãos
e pediste que eu me fosse!...
José Manuel Capêlo, Fala do Homem Sozinho, Editora Danúbio, 1983
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