sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ali estávamos nós, no rubro em que os tendões se desgastavam

A escola do amor, de Correggio

Ali estávamos nós, no rubro em que os tendões se desgastavam
em que as surpresas se animavam no canto da pele
em que a luz se limitava no pequeno sinal que saía da aparelhagem
a enunciar distância. Era nas nossas cinturas
que se armadilhavam as mãos, enquanto dormíamos.
Era nos nossos peitos que se surpreendiam as bocas
enquanto respirávamos. Era nos nossos sexos que estremecia a onda
que nos empurrava um contra o outro
aninhados em brilho de gestos, enquanto vivíamos. Sorrindo.
E enquanto tudo isto se enunciava, era a nossa língua
a carne onde habitavam as vésperas das folhagens.


José Manuel Capêlo, A Noite das Lendas, Aríon, 2000

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