pintura de Pierre Puvis de Chavannes
Olhei na estranha montanha meu amor
que os dias não passavam iguais
que o reflexo do sol tinha a imagem da água
que a pobreza do mundo compreendia a imagem do céu
que ontem fora um dia longo
que hoje fora um dia sem qualquer dia
que amanhã irá ser um dia curto
Olhei na estranha montanha meu amor
os cavalos empinarem-se de riso
os archotes iluminarem a luz
a água vir dar de beber à sede e ao suor
as árvores baixarem-se na sombra seca
os teus longos brancos braços virem-se estreitar
de encontro ao amanhã que não virá
Olhei na estranha montanha meu amor
o meu gesto a cruzar-se no tronco
dum candeeiro sem lâmpada
Era o largo em que circulava o fumo do meu cigarro
José Manuel Capêlo, Fala do Homem Sozinho, Editora Danúbio, 1983
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