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Nesta tarde de cinza com o sol espreitando ao de leve
nem a minha imagem, nem o meu espaço
apenas, o eterno vazio a dizer-me quem sou
como uma voz que se lamentasse
ou ficasse aflita por nunca atingir o meio da plenitude.
Puxo de vários cigarros e fumo-os avidamente.
No meio deles, reparo
há metade do meu vazio
como no choro de uma criança
que não tivesse lágrimas
como nas badaladas dum sino
que não tivesse horas.
E como é bela a planície ou o arredondado da montanha...
Como é fresca a água que nos dessedenta ...
O voo da ave em imagem acrobática
suspensa
leve.
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Nesta tarde de cinza
tenho um vazio em mim
de que preciso dizê-lo.
Não é um vazio triste
mas um vazio incompreendido
como a imagem da serra
que se levanta atrás de mim.
José Manuel Capêlo, corpo-terra, Trelivro, 1982
Não é um vazio triste
mas um vazio incompreendido
como a imagem da serra
que se levanta atrás de mim.
José Manuel Capêlo, corpo-terra, Trelivro, 1982
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