Há muitas coisas que um espelho não diz.
As cores das tuas unhas, as palavras dos teus lábios, as imagens do teu pensamento. E tudo corre como um dia, um dia pleno como o deslizar de um rio por entre as margens de duas cidades. Podiam ser Bizâncio e Constantinopla. Athenas e Roma. Lisboa e Veneza. Antigamente fazia-se o percurso a pé ou a cavalo. Porventura numa charola ou numa carruagem. Hoje, utiliza-se o carro veloz, o avião ou o helicóptero de uma qualquer companhia privada.
.Lisboa pendura-se, atrevida, das colinas várias que não se vêem, se não distinguem, cobertas que estão por um emaranhado de prédios que a recobrem numa tonalidade irrespirável. E o desassossego entranha-se, distinto e vário, pelas ruas e avenidas desta cidade mole, farta, confusa; porém, particularmente alegre, quando a noite estende o seu manto memorial pelas alegrias várias, pelas tristezas muitas. Há um código secreto a caracterizar esta cidade; bela de dia. Mais ainda, de noite!..
Mas contigo, há muitas coisas que um espelho não diz.
Como o sol que se enche de inverno e de preguiça. Ou a lua que se espraia de estranhíssimas luzes e de fascinante sossego. Ou ainda, o aquário irremovível de fé e eterno acreditar.
Com eles, sabe-se do prazer e da denúncia. Do silêncio e da habituação. Da realidade e do que se cria. Eu, apenas penso no momento e no tempo, no que é e que será. Tu, vives eternamente!...
Para lá volteiam as sombras
eternamente perdidas, eternamente vagas.
Hoje, é a Hora! ...............Amanhã, o Destino!
Aquela, sou eu! ............ Este, és tu!.
José Manuel Capêlo, Quanto desta terra é, Átrio, 1992
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