terça-feira, 28 de outubro de 2008

três poemas para Bárbara

pintura de Paul Cezanne

II

mas Bárbara estava ali, serenamente distante, suavemente recolhida, aparte o movimento e as vozes, a comunhão do almoço de grandes mesas estendidas e apinhadas, pão espalhado em múltiplos cestos, jarros de vinho da região profusamente dispostos à distância de dois palmos; pratos, garfos, facas, copos, terrinas onde se acabara a caldeirada; azeitonas metidas em cachoeiras de barro; a luz do sol a entrar pelas vigias semi-abertas; a luz das lâmpadas a compensar a muita sombra que existia nos cantos mais resguardados da sala. observava Bárbara no seu silêncio, no seu olhar posto em qualquer ponto que só ela descobria, em qualquer horizonte que a apatia mostra no seu desencanto, por algo que (só) a mais infinita tristeza, sabe, era Bárbara, fingidamente presente.

José Manuel Capêlo, Enche-se de Eco a Cidade, Átrio, 1989

Sem comentários: