para o Carlos Drummond de Andrade,
no dia dos seus 83 anos.
E agora, Carlos?
Não vou de bonde
porque não sei o que é um bonde.
Talvez a terra redonda
esclareça o que é um bonde.
E agora, Carlos?
E agora?
Agora
é uma palavra a lembrar metafísica
a lembrar discurso
a lembrar carinho
a lembrar que a noite veio
e o frio esfriou
a lembrar que os sábios
não têm biblioteca
nem incoerência
nem ódio.
E agora?
E agora, Carlos?
Se a geometria não fosse
uma parede nua
acreditaria que sozinho no escuro
fugirias a galope.
Como não, Carlos?
E depois, Carlos?
José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986
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