Sempre uma garrafa na minha mesa!
Sem a garrafa
a mesa não existe
porque nem a toalha ou os pratos a enfeitam.
Há a impressão de que
sem a essência na garrafa
a inteligência humana sofre
(porque pede)
e desde que pede
o homem pena sem impressão.
Sempre uma garrafa na minha mesa!
Álcool puro pela garganta abaixo
livros atirados ao ar
no ar de mosto
em que as vozes se aglutinam nas cervejas
os brados se enfeitam no borbulhar da fermentação
os gestos são lentos pelo vivo do liquido...
Ah! mas os gritos, os brados, os gestos
não serão forma pura de imaginação?
.
Sempre uma garrafa na minha mesa!
José Manuel Capêlo, corpo-terra, Trelivro, 1982
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