Ninguém olhou o teu rosto.
Ninguém quis saber
que essas tuas mãos tinham mais força
que todos os sonetos de Shakespeare.
Balançando no Tejo
o teu gesto
todo ele tinha forma da cidade
que crescia para mim
em cabeças várias
como legiões de bárbaros
ninhos de franco-atiradores
pelotões de fusilamento.
Acendi o cigarro
e contemplei a cidade do outro lado.
Nada me parecia mais irreal
do que as mãos das pessoas
passeando, olhando procurando
o outro lado da vida
- se é que a vida tem outro lado
e esse lado se olha! -
com o á-vontade de quem se passeia
pela face da terra
com gestos de heróis.
Ah, quanta desgraça!
Quem a assume? Quem a contempla?
José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986
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