sábado, 8 de novembro de 2008
A razão do meu sentir de hoje!
.................Eu quero ser louco.
.................Deixem-me ser louco.
Loucura não é usar boné
coçar na cabeça, roer um dedo, olhar uma grade
andar num só pé.
Loucura não é olharem-me nos olhos
fumar dum só lado
entre flores duma árvore de cemitério
uma perna que passa
uma saudade de fado.
................Eu quero ser louco.
................Deixem-me ser louco.
A loucura é uma casa em que me abrigo
uma luz que me ilumina, uma mão que me segue
e que riu porque a sigo.
Loucura é fazer versos
é mostrar-me, é dizer quem sou
- um dedo, um olhar, um boné -
dos lugares que sinto... dispersos.
................Eu quero ser louco.
................Deixem-me ser louco
........................................ao menos
....................................................Hoje!
José Manuel Capêlo, Odes Submersas, Átrio, 1995
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