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O silêncio, este muro que nos adormece e cerca, é uma luz que se amedronta, abafada pelos gritos dos que mordem as palavras. Nunca poderia pedir o silêncio entre celas que não sinto. Mas há tantos que podem... Olha-me na tua fragilidade exposta, mulher. Espreita-me pelo canto do cinzeiro em que pus todas as minhas esperanças de amanhecer, todos os traços invisuais de credulidade, procura impossível de qualquer alegria breve. Hoje, acredita-me, sou mais do que todos os reis que existem nesta terra de noite. Do que todos os presidentes que se sentam entre cadeirões de veludo. Mais do que a riqueza de todos os ricos juntos. Não te esqueças que o meu sorriso traz a chama da liberdade a acender-se, como fogo do fia de ontem.
José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986
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