sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Repara como tudo é leve

pintura de Fragonard


Repara como tudo é leve
como tudo flui pelo espaço
que nos submerge. Somente o teu sorriso
é branco e começado, como as montanhas
que vemos perto e se sucedem.
Luminoso e marcado, é o lugar
onde se muda o que nos resta
claridade que uma manhã segura
e a fixação imagina.
Repara como os homens têm lágrimas e reflexos.
Como neles, tudo é pleno e se transmuda
porque suspensas são as cores
e os rostos e as claridades
arco-íris que as nuvens não fixam.
Não me perguntes se sou
porque se aqui estou, mais longe estarei
- todos estes dias de iguais dias-
nos dias que me seguram o corpo
me esfregam os olhos fechados
me recordam manhãs que correm breves.
Ainda, a grande alegria que se suspende
das máscaras de imensa poeira repetida.



José Manuel Capêlo, A Voz dos Temporais, Átrio, 1991

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