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Foi assim que apareceste no grande vale dos meus delírios e sonhos. Forma de mulher, forma de gentio, forma de brevíssima sede nos meus lábios vermelhos ressequidos. Dessedentei-me ante o teu sorriso branco e pleno, fortuito acaso que me aparecera sem esperar. No olhar-te, lembrei-me dos dias virginais de Setembro em que pelas mãos passaram os fáceis versos que tiveram, nas palavras dos outros, o fruto do tempo a compor-se com o Outono solar das folhas, que principiavam a silenciosa descida das árvores. Vieras com elas. Serena e breve, plena e enfeitada. Com as cores das tuas vestes. E o teu sorriso. Sempre o teu sorriso branco, na boca vermelha de espanto. Depois, apareciam os que te viam. Segredavam-se-te em vozes de plenos animais de instinto, de posse ou de delírio. Só que, me compreendeste no eco do espaço, na única palavra que te segredou, que o lugar não era ali, nem em lugar algum que a sala proporcionava. E tínhamos a noite. Possivelmente, as estrelas que nos iriam receber. Ou mesmo, que viessem as nuvens.
José Manuel Capêlo, A Voz dos Temporais, Átrio, 1991
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