pintura de Francis Danby
Sábado adormeceu.
Corre a noite com a brisa forte e refrescante
a entrar-me pela janela aberta deste andar de três pisos de altura.
É a noite que me invade de segredo.
Como o de estar só
e perfeitamente consciente d(est)a minha solidão obrigatória
necessária, fantástica. Tenho mais tempo de pensar
de criar para mim todos os objectos que imagino
todos os reflexos que me possuem, e de que sou possuidor
na mais completa e perfeita alquimia dos sentidos
dos desejos, das verdades que me surgem irradiantemente distintas.
A solidão não é, nem nunca poderá ser o estado do meu abandono
ou da minha oposição ao mundo que me rodeia.
É antes, o mais completo estado das minhas faculdades
das minhas aparências, das minhas visões
das imagens que crio para mim
(e também para os outros, porque não!...) e que deixo
para quem as quiser receber voluntariamente e sem obrigações.
José Manuel Capêlo, A Noite das Lendas, Aríon, 2000
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