Há um quadro no meu rosto.
Bebo o que me vem das cores. O resto, são formas que mal distingo, aspectos que mal vejo, qualidades que não sei quais. E o teu rosto, o teu rosto e o silêncio do teu rosto...
Ouço indiferente a sua voz.
O cigarro acende-se
a luz fere
a chama brilha
o fogo ateia-se.
Basta!
Como quem acorda os nibelungos após a morte. Qualquer sono. O infinito... Qualquer infinito que surja entre a voz e o princípio de um qualquer precipício. Basta! Porque a casa que habito não é minha, nem a face que distingo vem com a cidade aberta, nem o relógio, com a sua pancada habitual, se escuta. Só a noite enche o rosto e a alegria breve. Qualquer alegria breve, como o som que se expande da alma.
Há um quadro na parede.
Há um quadro no meu rosto, verás!
José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986
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