sábado, 6 de dezembro de 2008
Nada é estável e eterno no mundo
Nada é estável e eterno no mundo. Tudo se modifica: como o amor e a raiva, a posse e o isolamento, o acreditar e o engano!
Cantei em ti, a visão íntima da terra
a noção inteira do corpo
a razão destruída do espírito.
Cantei-te, ó deusa inteira e frágil
- lugar das alturas e dos delírios
embrião de uma ideia
que me fez nascer num dia
em que a noite cantou a terra -
porque nas tuas mãos frágeis
seguraste o meu corpo e delírio
enfrentando os mistérios do silêncio
nas vozes incapazes que se alimentam de esquinas.
.
Cantei-te, ó deusa inteira e frágil
porque se o não fizesse
nunca o teu nome seria destino e tempo.
Amanhã é nunca. Porque é sempre.
E nunca saberemos se nos encontramos e se tudo foi hoje. Ou se foi verdade. Ou se nada passou de uma invenção.
José Manuel Capêlo, Odes Submersas, Átrio, 1995
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1 comentário:
Caro "Zé",
fiz um link com o teu blogue e hoje vim aqui espreitar. Dei logo de caras com este belíssimo poema,
de um livro teu que lera em tempos.
Um abraço.
P.S. Em breve irás parar à antolo-
gia do meu humilde blogue...
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