quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Rebentem as noites de chuva e aqui estarei

mulher deitada, de Pablo Picasso


Rebentem as noites de chuva e aqui estarei
aqui me suporto, aqui me faço fé.
Respondam-me com a segunda razão
- a razão dos aspectos, a razão da fala -
a lembrança da alma. Poderás recordar a alma?

Oh! frágil noite de lágrimas e fogo
onde me retêm as nuvens e as margens marítimas.
Deixa que me faça para que te possua.
Depois... Depois, que venha a tua alegria breve
transformada em desejo, em cama
esteira, pau, suor.
Deixa-me o tempo de hoje
porque amanhã será o leve tempo das brisas.

José Manuel Capêlo, A Voz dos Temporais, Átrio, 1991

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