O pianista toca a tecla do piano, como se nada mais ouvisse do que a tecla do piano em unicorda suspensa.
O dactilógrafo toca a tecla da máquina de escrever, como se nada mais ouvisse do que o olhar do chefe a instigar-lhe a que escreva, na tecla da máquina de escrever.
O pianista toca. O dactilógrafo toca.
Eu
toco no meu peito por dentro da camisa e sinto a carne que se toca.
Só toco a carne, não o espírito já que a minha sensibilidade se toca em imagens que saem em notas de uma música diferente.
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Olhando a rapariguinha que come guloseimas
sinto-a numa forma estranhíssima de lhe tocar...
José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986
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