segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Infinito o mar

pintura de Emília Matos e Silva


Infinito o mar
longínquo
como a nudez
do teu corpo
entre a areia.

José Manuel Capêlo, Margens, Perspectivas & Realidades, 1984

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O eco e a cidade

pintura de Edward Hopper


bastavam-me os teus olhos
e a noite
vinha com o canto dos navios.
serena viria a sombra
e o teu eco
pelos rios.

bastavam-me os teus gestos
e a cidade
corria lado a lado junto a nós.
branda a silhueta
da saudade
na minha voz.

bastavam-me os murmúrios
lentos
e as tuas mãos cingidas ao meu corpo
como cadeias de ventos.

tudo bastava, meu amor.
o sol
preso na distância
traria o eco
o olhar
e a minha ânsia.

Lisboa, 01.Julho.1983

José Manuel Capêlo, Enche-se de eco a cidade, Átrio, 1989.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Oh! dia fulgurante de estrelas e de luzes


pintura de Joseph Mallord William Turner

Oh! dia fulgurante de estrelas e de luzes
de sombras, de vozes e de desejos
que contemplo aninhados e visíveis
nestas folhas brancas
que o papel imprime e seduz. Hoje é o dia material
responsável único por esta demanda de ecos
- vozes surdas e sobrenaturais -
pelas diferenças do espírito, pelos rios da cor
pelos rugidos da forma, pelos altos e baixos
da minha vontade e memória e tempo audaz.

Ninguém me perceba, porque todos me dirão!
- Como o horizonte que se aproxima na linha que fica
aquém da consequência e do modo.

poema de José Manuel Capêlo, A Voz dos Temporais, Átrio, 1991