domingo, 5 de abril de 2009

Infinito em transparência

pintura de Thomas Gainsborough

para Iris May Walker

Tudo o que existe, pode existir para lá do que os olhos vêem. Nada na terra é igual; nem as mãos que a construem para lá do que é. Um rio enche-nos de infinito sossego. O mar de brusca solidão. O céu de infinita melancolia. Os homens de irremediável pavor. Tudo se mistura com a delicadeza das folhas em estranhíssimo bailado por entre o intrincado dos ramos. É folhagem e o manto da floresta. Mas tu, que és mãe, neste universo sedento e alheio, podes imaginar o que sinto ao olhar o cansaço dos olhos, o peso das mãos, o movimento das folhas que o vento levanta. Tu que és mãe, podes saber que te sinto um imenso rio, um infinito em transparência.


José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986

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