quarta-feira, 13 de maio de 2009

À noite, na cidade


Spike, de Emília Matos e Silva

para o Putchi


A cidade dorme de preguiça. Plena, convencida, farta. Na rua passeiam-se os donos com os seus cães de estimação, enfeite mais para se amar uma casa, do que para mostrar ao vizinho o leão que se tem. Um deles, ladra a bom ladrar. É pequeno, negro, absolutamente vivo, orelhas esticadas sobre o focinho aligeirado, olhar inteligente, gesto rápido. Tem uma mancha branca, lindíssima, à flor do peito. O dono passeia-se com ele na mesma lentidão com que a cidade se espreguiça. Olho-os, e a minha paciência passa à frente com a faiscante certeza de quem tem tempo... e aguarda.


José Manuel Capêlo, Rostos e Sombras, Sílex, 1986

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