quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Para um ano!...

pintura de Kandinsky

O que é que posso escrever para abrir um ano?
Que o sol dure?
Que as aves continuem a habitar o céu?
Que viva muitos dias?
Que me desate a rir?
Que peça – a Quem? – que me nasça um rapaz?
Que me faça rico?
(Como, se sei que nunca o serei?!...)
Que mantenha o emprego?
Que tenha um novo carro?
Que este inverno seco traga chuva?
Que escreva muito?

Há tantas coisas a pedir, há tantas coisas que
gostaria de ter, que prefiro não pedir nada e deixar
que o tempo passe.
Esse sim, esse logo me trará o que me está guardado.

Nunca fui de ambições.
Vivo do trabalho e de sonhos.
Muitos. Mil.
Cada dia com múltiplos, diferentes
sempre diferentes.

poema de José Manuel Capêlo, corpo-terra, 16.set.1981

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