terça-feira, 16 de setembro de 2008

Não me dêem cafés

casal numa mesa de café de Pablo Picasso


Não me dêem cafés.
Detesto cafés!
Os cafés lembram-me os olhos
do novo maquievel.
Enxugam-se as lágrimas
e eu
quero chorar.
Dêem-me os olhos para chorar.

No meio dos olhos dos outros
vejo cafés
e os cafés são os olhos dos outros
que não choram.
Não me dêem cafés.
Detesto cafés!

Têm a alma dos gatos
em noites de cemitério.
E eu
detesto cemitérios.
Se me quiserem acompanhar
dêem-me… (nes)cafés.


José Manuel Capêlo, Margens, Perspectivas & Realidades, 1982

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