domingo, 21 de setembro de 2008

Há muitas coisas que um espelho não diz.

pintura de Edouard Manet

Há muitas coisas que um espelho não diz.

As cores das tuas unhas, as palavras dos teus lábios, as imagens do teu pensamento. E tudo corre como um dia, um dia pleno como o deslizar de um rio por entre as margens de duas cidades. Podiam ser Bizâncio e Constantinopla. Athenas e Roma. Lisboa e Veneza. Antigamente fazia-se o percurso a pé ou a cavalo. Porventura numa charola ou numa carruagem. Hoje, utiliza-se o carro veloz, o avião ou o helicóptero de uma qualquer companhia privada.
.
Lisboa pendura-se, atrevida, das colinas várias que não se vêem, se não distinguem, cobertas que estão por um emaranhado de prédios que a recobrem numa tonalidade irrespirável. E o desassossego entranha-se, distinto e vário, pelas ruas e avenidas desta cidade mole, farta, confusa; porém, particularmente alegre, quando a noite estende o seu manto memorial pelas alegrias várias, pelas tristezas muitas. Há um código secreto a caracterizar esta cidade; bela de dia. Mais ainda, de noite!..

Mas contigo, há muitas coisas que um espelho não diz.

Como o sol que se enche de inverno e de preguiça. Ou a lua que se espraia de estranhíssimas luzes e de fascinante sossego. Ou ainda, o aquário irremovível de fé e eterno acreditar.

Com eles, sabe-se do prazer e da denúncia. Do silêncio e da habituação. Da realidade e do que se cria. Eu, apenas penso no momento e no tempo, no que é e que será. Tu, vives eternamente!...

Para lá volteiam as sombras
eternamente perdidas, eternamente vagas.
Hoje, é a Hora! ...............Amanhã, o Destino!

Aquela, sou eu! ............ Este, és tu!.

José Manuel Capêlo, Quanto desta terra é, Átrio, 1992

Sem comentários: