sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Falar-te-ão de mim, mas não os homens que hoje me erguem

pintura de Gustave Moreau


Falar-te-ão de mim, mas não os homens que hoje me erguem
nesse falso altar de amizade sem sentido, despropositada
de algum interesse escondido. Já hoje não será o dia
em que os homens cumprem, porque hoje é nascer
para um amanhã que me elucida e não desmente.
Lembra-te que as palavras são os olhos de sempre
porque só elas são os ventos da nossa grandeza
desta nossa miséria desencantada e gasta.
Lembra-te que é com suor que imaginamos sonhos
e desejos e fés e as camas longas do nosso delírio
a suspenderem-se da reunião da espera inaproveitada.
Lembra-te que, sendo a Hora, não é o tempo!



José Manuel Capêlo, A Voz dos Temporais, Átrio, 1991

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