
para a Maria Guinot
Há estradas que circundam o nosso sorriso
mares que circumnevegam os nossos beijos
montanhas que nos gritam como aves
pedras que rolam como mãos
o grande anfiteatro a parecer pequeno
e onde julgamos não caberem os nossos olhos
Só que a estrada é mais comprida que a nossa fala
As velhas persianas ... ao fecharem-se ... estalam
de secas ... gripam dos gonzos ... rodam nos eixos
com o barulho característico de quem se esforça
As mãos abertas buscam os contrafortes das vozes
as silhuetas das faces em ginástica apressada
mímica transfugada para as paredes do acaso
onde se escondem as sobrancelhas cerradas
dos palhaços tristes
Mas vêm as pancadas na madeira aberta
Molham-se os lábios com a saliva da Hora
o cabelo com o barulho do ar
a nossa alma com o nosso medo
Mas do céu azul há sempre um traço vermelho
a gritar o nosso desprezo ... a nossa fúria ... a nossa ânsia
os mares da nossa fé ... de inocentes martirizados
canetas de água-tinta ... a comporem epopeias
enfrente do rochedo enorme ... informe ... sedento
Mas é do meio das nossas mãos que brota o suor
José Manuel Capêlo, Fala do Homem Sozinho, Editora Danúbio, 1983
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