sábado, 20 de junho de 2009

TU ESTÁS TÃO VELHA !...


Visita, de Jacopo Pontormo


Tu estás velha
tão velha
como os monumentos cicatrizados no meu rosto
velha
como a luz pálida que se apaga no dia
velha
como os dias que morreram sempre iguais
velha
como os quadros que fazíamos em noites por acabar
velha
como as ruas a que nos chegávamos
velha
como todos os abortos que nunca nasceram.
Tu estás velha
tão velha
como no retrato que vi casualmente numa revista
como este tempo que passou e não foi muito
sem te ter e sem te ver...
Velha
tão velha
que já nem te distingo.

José Manuel Capêlo, Fala do Homem Sozinho, Editora Danúbio, 1983

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