sábado, 10 de janeiro de 2009

Inventemos o encoberto em-nós na luz que se apaga

Onda, de Gustave Courbet

Inventemos o encoberto em-nós na luz que se apaga
e se inventa, como misérias de água que o ribeiro deixa
ou o mar expõe na sua imensidão serena e selvagem
bárbara e monótona. A alma! ...
Inventá-la, é guardar o resto que resta de-nós
e se não sente. É atravessar um grande jardim
sem árvores e sem bancos. É respirar o ar de um tubo
polvilhado de carbono. Basta olhar tudo o que vem de fora
para nos compreendermos sem alma, como casa grande
e meias luzes de intento e graça. Sem voz nem eco.


José Manuel Capêlo, A Voz dos Temporais, Átrio, 1991

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